Há anos trabalhando na área de compras temos, por foco principal das nossas ações, a apresentação sistemática de “savings”.
Sabemos da importância da nossa área no resultado da empresa e, principalmente em épocas de crises, nossos valorosos negociadores e negociadoras vêm dando conta do recado.
Nessa busca diária por redução de custos para nossas operações, atiramos para todo lado, seja: redução de estoques (JIT, JIS, Kanban, Milk Run, ...), fonte única de fornecimento, matérias-primas alternativas, LCC, localidades de produção, ainda que muito distantes de nós, mas que apresentem custos hora-homem, custos de produção e demais insumos mais baixos que os habituais, sem falar das ginásticas fiscais para se pagar menos impostos, enfim, a lista é longa.
No entanto, vejo a análise de risco da supply chain deixada de lado, ou se preferirem, não se dando a profundidade necessária e requerida para a análise do tema.
Fala-se muito de Strategic Sourcing, mas esquece-se o que isso significa: uma metodologia de ações coordenadas que visam redução de custos e mapeamento e mitigação de riscos!
Quando falamos de mapeamento e mitigação de riscos, estamos falando de uma análise prévia daquilo que pode vir a acontecer.
É incrível, há anos, na engenharia, temos APQP, P-FMEA, por exemplo, que nos permite fazer um complexo exercício de antevisão e, por assim dizer, antever os possíveis problemas que poderemos enfrentar num determinado processo e assim lançarmos mão de ações já discutidas e validadas.
Pois bem, por que não fazemos o mesmo para a nossa cadeia de fornecimento?
O que está faltando para olharmos mais a fundo ao que acontece a nosso redor e assim desenhar nosso “P-FMEA”!
Aqueles negociadores que estão focados em atender às demandas diárias da empresa somente, que quando muito apresentam algum “saving”, enfrentarão fortes tormentas em suas vidas profissionais.
Antever o que está por (ou poderá) vir é uma nobre tarefa que exige deste profissional muito mais que entender da sua base de fornecedores, mas de mundo.
Tensões geopolíticas, mudanças climáticas, alternâncias de governos, novas tecnologias, tudo pode nos trazer sérias consequências se não forem mapeadas e estudadas.
Com quem eu converso, de todos os setores da indústria, estão passando por algum tipo de aperto, mas todos têm um ponto em comum, não foram capazes de antever o problema.
Será que dessa vez aprendemos ou continuaremos a dormir no ponto?
Escrito por Celson Salviato (originalmente publicado no Linkedin, em 02/04/2022)
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