Nas minhas observações pelo mundo corporativo, pelo menos nos últimos 16 anos, olho cuidadosamente para as equipes de compras e foco com bastante atenção nas habilidades individuais. Convivi com alguns consultores e professores de compras, conversei muito sobre como melhorar equipes, desenvolver compradores e como exercitar as habilidades dos compradores.
Em algum momento de minha carreira, parei para analisar um case de sucesso. Um professor de compras, muito amigo meu, comentou sobre duas pessoas que trabalhavam em uma empresa que passava por um momento de transformação de seu departamento de suprimentos.
Um rapaz introvertido, muito sábio, inteligente, resolutivo e "acabativo" mas falhava nas comunicações e marketing pessoal.
Uma garota extrovertida, nada sábia, nada inteligente, nada resolutiva nem "acabativa" mas comunicativa e que fazia muito marketing pessoal.
Me interessei imediatamente pelo case, enxerguei uma ótima oportunidade de exercer a arte humilde do aprendizado.
O professor continuou me falando sobre as duas pessoas. Ele me explicou que o rapaz, talvez por ser muito introvertido, não era tão conhecido pelo grupo formador de opinião e obviamente não era reconhecido pelo seu gestor e muito menos pela empresa. A garota usava toda sua desenvoltura para convencer seu chefe e demais decisores da empresa, que era conhecedora das técnicas e táticas de compras e consequentemente era reconhecida, promovida e premiada com aumentos, benefícios e bônus de PLR.
Com ar de fúria eu perguntei ao professor porque uma pessoa inteligente e sábia podia ser tão rebaixada e uma pessoa aproveitadora e sem conteúdo podia ser tão reconhecida ?? Calma... calma... o professor com um sorriso discreto me respondeu e continuou falando sobre o case...
O professor então, me deixou mais furioso quando me disse que a garota vivia reclamando do salário, dos benefícios, do sistema de premiação e das suas funções... funções essas, sempre recheadas de desafios e aprendizados, recheadas de oportunidades de crescimento profissional e até mesmo pessoal através de network se trabalhados corretamente... e por outro lado, muito mais furioso eu fiquei quando ele me contou sobre a rotina do rapaz... simplesmente o rapaz entrava mais cedo e saía mais tarde, fazia inúmeros cursos de aperfeiçoamento, era culto... usava da leitura como ferramenta de aprendizado, cuidava daquelas demandas "enroscadas" que ninguém sabia e nem queria cuidar, conhecia os atalhos da empresa e usava do seu silencioso network para resolver todos os problemas de seu departamento, era humilde e não reclamava do seu salário (mesmo recebendo quase metade do que a garota arrogante), não reclamava dos benefícios da empresa (mesmo necessitando de um convênio médico melhor, uma ajudinha com transporte porque morava longe) e mesmo ficando triste, muito triste por não receber o bônus da empresa, não reclamava... sempre estava lá, no seu posto de trabalho focado e entregando sua demanda com precisão, respeito e excelência.
Pedi educadamente para o professor acelerar a narração porque eu não estava mais aguentando escutar tanta desigualdade e estava muito curioso para ouvir o final da história... logicamente torcendo para uma reviravolta e por uma vitória do rapaz... mesmo não sendo uma competição eu já tinha escolhido torcer para o rapaz.
Finalmente o professor pega a reta final da história e muito ansioso e apreensivo eu fiz mais uma pergunta: O que aconteceu com eles?
A resposta foi tão precisa e simples como um final feliz de um filme de sessão da tarde. Ele me disse que o rapaz se deu bem e foi escolhido para liderar um projeto muito importante e a garota foi demitida.
Legal!!! Parabéns pelo case de sucesso professor!!! Ainda bem que o final foi feliz. Mas me explica aí... qual foi a lição aprendida?!? Fiz minha última pergunta, mesmo sabendo que eu poderia não ter a resposta.
Não sei exatamente de onde vêm as respostas dos professores mas veio... com um humilde sorriso ele me explicou... explicou comparando a vida de um sapo e uma borboleta. O professor disse que enquanto a borboleta está lá dentro do casulo, ainda uma lagarta feia lutando sozinha pra sair, sem ar nem comida por alguns dias... o sapo está lá na lagoa soberano, engolindo os insetos, gritando alto e se achando o dono do pedaço mas depois de muita luta a borboleta sai do casulo, linda e leve, colorida e cheia de vida... voa livre e encanta todos... e o sapo? continua lá na lagoa, sozinho e gritando... gritando sozinho... e nada mais.
O professor ainda finalizou: A borboleta, diferente do que muitos pensam, não vive apenas 24 horas, chega a viver por 10 meses (1% do tempo vive sofrendo no casulo e 99% vive livre e voando).
E o sapo vive 15 anos (100% do tempo), no brejo, gritando e gritando...
E você, é um comprador sapo ou borboleta?
Autor - Douglas Marques Ferreira
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