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O que você faz quando ninguém te vê fazendo?


Compras, ética e compliance.


Já perguntava um clássico do rock brasileiro:


“O que você faz quando ninguém te vê fazendo, ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver? ”


Talvez você, leitor desse texto, não pulou ao som do Capital Inicial ou sequer conhece a música em questão, mas a mesma traz à tona essas perguntas que, para nós, compradores, podem ser utilizadas para falarmos de temas que precisamos ter sempre em nossa mente: ética e compliance.


Temos princípios que norteiam o comportamento do ser humano nas sociedades. Segundo Campos, Greik & do Vale (2002), “...todo ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz distinguir entre o certo e o errado, justo ou injusto, bom ou ruim, com isso é capaz de avaliar suas ações; sendo, portanto, capas de ética. A ética, portanto, é a ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta humana. ”


Em geral, práticas de corrupção, como chantagens e subornos, e outras ações que colocam interesses individuais em confronto com interesses coletivos, não são condutas vistas positivamente em quaisquer sociedades. Quando falamos do universo de compras, essa realidade não é diferente.


Cada vez mais as grandes empresas têm redigido documentos que regem os comportamentos aceitáveis nos relacionamentos entre seus colaboradores, fornecedores, clientes e outros stakeholders. Regras sobre condução de negociações, sobre recebimento de brindes e presentes, sobre convites para refeições e /ou outros eventos e muitos outros pontos são abordados de maneira clara e objetiva.


Uma vez que temos documentos, ainda que sejam regras não escritas, mas que são difundidas, qual o motivo para, vez ou outra, termos em nossas empresas, órgãos públicos e outras instituições “escândalos” relacionados a compras e a relacionamento entre compradores e fornecedores?


Em um momento delicado, vimos empresas repensarem suas regras e políticas com a finalidade de enfrentar um cenário global de escassez e dificuldade de fornecimento em alguns segmentos. Também presenciamos compras de materiais hospitalares, para enfrentamento de uma pandemia, com suspeitas de superfaturamento.


Quantos de nós já não recebemos uma denúncia, por parte dos fornecedores, sobre compradores solicitando benefícios para oferece-los também em troca? Quantos de nós já não fomos abordados por fornecedores com propostas que sabíamos que não deveriam ser feitas? Quantos de nós já fomos abordados por clientes internos, solicitando prioridade por conta da amizade ou de algum favor? Quantas vezes, por sermos de empresas maiores, não utilizamos isso de uma maneira desequilibrada para negociar com nossos fornecedores?

Talvez a sua resposta às perguntas acima seja não, mas quero lembrar que a omissão sobre situações que envolvam respostas positivas a essas perguntas, também são condutas que não são esperados de bons profissionais.


Talvez a música do Capital Inicial, nos ajude tocando na questão de maneira mais pessoal. Enquanto algumas pessoas estão trancadas no banheiro, outras roendo as unhas, outras presas em seus relatórios e números, o que eu e você temos feito em nossas mesas (reais ou virtuais) de negociação? O que fazemos quando ninguém ou quando poucas pessoas estão vendo? Qual o caminho temos escolhido seguir?

Em um mundo corporativo onde o tema compliance nunca foi tão discutido, precisamos reforçar e sempre lembrar a nós mesmos e aos nossos times que isso não pode tratar-se de uma burocracia vazia, mas algo que seja incorporado aos nossos “DNA’s” de compradores.


Para as empresas que nunca pensaram sobre esse tema ou sobre formalizar as regras relacionadas a ele, sugiro que o façam. Para as que já possuem tais regimentos, sugiro que difundem, auditem e mantenham esse ciclo sempre vivo.


Para além da empresa, continua válida a máxima de que cada um de nós deve fazer o seu papel. Se cada um fizer a sua parte, independente de qualquer interesse escuso, a mudança em direção a relações mais éticas e honestas será mais factível. Queremos tanto ver um Brasil diferente, ético e sério. Que tal começar conosco, nosso time e nossa empresa? Honestidade e ética precisam contagiar nossa área de Procurement. Por isso, sugiro que esse tema não saia de moda e nunca seja teoria vazia, mas sim um tema sempre falado e discutido entre nossos times.


Sim, precisamos falar, o óbvio precisa ser dito.


Eu estou 100% nessa. E você, está comigo?


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