O impacto do Passaporte Digital de Produtos (DPP) nas Compras: rastreabilidade, sustentabilidade e o futuro do comprador

A pressão por transparência e sustentabilidade na cadeia de suprimentos nunca foi tão grande. Em meio a esse cenário, a União Europeia está implementando o Digital Product Passport (DPP) ou Passaporte Digital de Produtos. Trata-se de uma medida que vai transformar a forma como produtos são desenvolvidos, produzidos, comercializados e, principalmente, comprados. Para os profissionais de compras, o DPP é mais do que uma exigência regulatória: é um chamado para assumir um papel estratégico em um mercado global que valoriza informação, compliance e competitividade.

O que é o Digital Product Passport (DPP)?

O DPP é, essencialmente, um documento digital único que acompanha o produto ao longo de toda a sua cadeia de vida. Ele pode ser acessado por meio de um QR Code, etiqueta inteligente ou chip, reunindo dados sobre:

●      Origem das matérias-primas;

●      Composição do produto;

●      Pegada de carbono e consumo de recursos;

●      Condições de produção e requisitos de sustentabilidade;

●      Potencial de reparo, reutilização e reciclagem.

A iniciativa começa a ser aplicada em setores prioritários, como têxtil, baterias e eletrônicos, mas deve se expandir para outros mercados ao longo da década.

Por que o comprador deve se preocupar?

O impacto do DPP vai muito além da União Europeia. Empresas brasileiras que exportam para esse mercado terão de se adequar às exigências de rastreabilidade, e quem não estiver preparado pode perder competitividade.

Para os compradores, isso significa que as demandas sobre fornecedores aumentarão: não bastará negociar preço e prazo; será necessário garantir dados confiáveis sobre a origem e os impactos de cada insumo. Além disso, o DPP reforça a responsabilidade solidária das empresas: se o fornecedor não cumpre, o comprador também é responsabilizado.

Desafios para a área de compras

A implementação do DPP traz desafios significativos, que exigem uma mudança cultural e tecnológica dentro das áreas de compras:

●      Exigência de mais informações técnicas e documentais: fornecedores terão que comprovar de forma padronizada a origem e impacto de seus produtos.

●      Sistemas de rastreabilidade: será preciso investir em tecnologias como blockchain, ERPs avançados e plataformas de monitoramento da cadeia.

●      Revisão de contratos: cláusulas de sustentabilidade, due diligence e auditoria terão de ser incorporadas e monitoradas com mais rigor.

●      Capacitação dos compradores: o perfil do profissional de compras terá que evoluir, incluindo competências em análise de dados ambientais, sociais e regulatórios.

Oportunidades estratégicas

Apesar dos desafios, o DPP representa também uma oportunidade para que as áreas de compras se tornem protagonistas na transformação do negócio. Algumas possibilidades incluem:

●      Diferenciação competitiva: marcas que se anteciparem ao DPP poderão usar a rastreabilidade como argumento de valor no mercado global.

●      Fortalecimento das relações comprador–fornecedor: a exigência de dados pode gerar mais transparência e colaboração, aproximando os parceiros estratégicos.

●      Ferramenta de marketing: empresas poderão mostrar ao consumidor que seus produtos são 100% rastreáveis, fortalecendo reputação e engajamento.

●      Inovação e circularidade: o DPP vai estimular o uso de materiais mais sustentáveis, design orientado para reparo e práticas de economia circular.

Como começar agora

Para se preparar, os compradores podem adotar algumas medidas práticas:

1. Mapear fornecedores críticos e identificar quem já possui dados de rastreabilidade e quem precisa evoluir.

   
   

2. Definir KPIs de sustentabilidade aplicáveis à área de compras, como índice de matérias-primas recicladas ou redução de emissões na cadeia.

   
   

3. Buscar parcerias com plataformas digitais que auxiliem no monitoramento da cadeia de suprimentos.

   
   

4. Promover treinamentos internos para equipes de compras sobre legislação internacional e boas práticas de compliance.

   
   

5. Acompanhar fóruns globais e regulamentos da União Europeia, garantindo atualização contínua.

   
   

O Passaporte Digital de Produtos não é uma tendência passageira: é um novo padrão global de negócios que vai redefinir a relação entre empresas, fornecedores e consumidores. Para os profissionais de compras, trata-se de uma oportunidade de reposicionar seu papel dentro da estratégia empresarial, assumindo responsabilidades que vão muito além da negociação de preço.

Quem compreender o impacto do DPP e começar a agir desde já terá vantagem competitiva, fortalecerá a sustentabilidade do negócio e mostrará, mais uma vez, que a área de compras é um motor estratégico de transformação.

Texto escrito por Daniela Dias

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