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Mercado imobiliário chinês passa por crise de confiança



Milhares de pagadores chineses tem se negado a pagar por hipotecas e empréstimos bancários como forma de protesto aos atrasos de entregas de apartamentos. O mercado chinês enfrenta uma condição nada razoável de confiança sobre cumprimento de contratos, pagamentos e acordos.


Muitas obras imobiliárias têm enfrentado atraso na entrega de materiais de fornecedores e também nos pagamentos de parcelas, especialmente construtoras e incorporadoras. A questão passa pela falta de confiança sobre o cumprimento de acordos e de liquidez sobre o andamento dos fundos gerenciados pelas imobiliárias. Há um ano ocorre uma onda de falta de pagamentos que agora começa a explodir no mercado financeiro em certas empresas que lutam para arrecadar tais fundos para concluir acordos de pré-vendas. Parece que o não pagamento é uma prática comum na China.


O governo chinês tentou conter o endividamento em 2020, na época pelo forte impacto da pandemia de Covid-19 e com a desaceleração econômica, mais recursos financeiros não conseguiram a resolução do problema de forma consensual. Diversos proprietários de apartamentos continuam infelizes pelo testemunho da não conclusão dos empreendimentos.


Com as custas processuais longe do alcance de proprietários comuns, empresas imobiliárias tornam-se aquém dos custos que compradores enfrentam sem a entrega do imóvel. O governo ainda incentiva a compra dos imóveis e o contínuo crescimento que o país está vivendo com arranha-céus e prédios enormes e incríveis por diversas cidades, só há grandes problemas factuais em cumprimentos de prazos, acordos, valores e processos, ou seja, uma pedra no sapato que está machucando o mercado imobiliário chinês.


Quando a crise aumentou em 2021/2022, o presidente Xi Jinping tentou realizar manobras de fluxos financeiros e de acordos com redução de taxas hipotecárias e redução de burocracias, especialmente no que trata-se aos empréstimos como meio para que os problemas não chegassem aos corretores e empresas estatais. Foi em vão, a situação em 2023 está mais delicada pois envolvem agora milhares de compradores para construções inacabadas e que não contam com aval governamental como mediador, isso mostra que relatos de funcionários estatais locais tentam desencorajar as queixas ao governo e também à imprensa, fazendo com que enfraqueça a economia nacional e provoque uma crise imobiliária inevitável sobre o que os compradores imobiliários, que temem grupos privados e o estado patriarcal.


O calote da dívida imobiliária passa dos 13% do PIB, segundo a Bloomberg Economic na análise de 186 incorporadoras de capital aberto que mostra que cerca de 48% do total de endividamento é de empresas que já não pagaram títulos durante a crise dos últimos dois anos ou correm riscos de não pagar. Se trazer a margem de dívida em valores, em 2022 chegava em ¥13,6 trilhões (de yuans) em risco de default, um forte risco para estabilidade financeira ao crescimento do país que pode impactar outros mercados influentes da potência oriental do continente asiático. O volume de dívida em risco pode crescer ainda mais, pois não constou na pesquisa as empresas de capital fechado que podem estar em situação financeira igual ou pior as empresas pesquisadas.


O setor corresponde a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e isso trata-se realmente de uma catástrofe moderna para um dos principais motores ao crescimento econômico. O desempenho prejudica a recuperação pós-pandêmica, além de poder afetar o setor de exportações de commodities, como minério de ferro e cobre, pela falta de confiança aos investidores chineses e globais.


O peso para o crescimento futuro é muito drástico quando se compara com o que o país vem fazendo na última década, acelerando e transformando investimentos em potencial crescimento na área de compras, serviços, commodities e tecnologia. Em fevereiro de 2023, o governo chinês anunciou a criação do programa "Minha Casa, Minha Vida" em moldes similares ao brasileiro para autorizar agentes autônomos a retomarem modelos de financiamentos imobiliários e mais construções. A tentativa de recuperação foi considerada no mercado válida, porém frágil para conter o desequilíbrio que já ocorre, trazendo uma preocupação global.


Para citar um exemplo, o leilão da incorporadora inadimplente Shimao Group foi um total fracaso ao não encontrar comprador para projeto de US$1,8 bilhão em um leilão forçado, mesmo com um grande desconto. Diversas mídias noticiaram problemas de confiança e credibilidade no que o governo chinês chamou de consequências estruturais de acordo. Ainda não há um planejamento para lidar com as faltas de pagamentos dos compradores e nem com as promessas de entregas das incorporadoras.



Texto escrito por Thales Kroth | 20/07/2023, é sócio na Eu Acionista e é colunista do Café com Comprador.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Café com Comprador e de seus editores.

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