A culpa é sempre de Compras?
- ruysmagalhaes
- 19 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jul.

A culpa é sempre de Compras?
Quem trabalha com Compras, seja na indústria têxtil, automotiva, tecnologia ou serviços, já ouviu (ou pensou) essa frase: “a culpa é de Compras”. Produto atrasado?
É Compras. Margem abaixo do esperado?
É Compras. Fornecedor que não entregou direito?
É Compras.
Mas será que é mesmo?
Ao longo da minha trajetória como Gestora de Compras no setor têxtil, percebi que, apesar das especificidades de cada segmento, há similaridades gritantes nas dores enfrentadas pelas áreas de Compras: falta de integração com outras áreas, processos desorganizados, metas pouco alinhadas com a estratégia da empresa e, principalmente, um desconhecimento generalizado sobre o papel estratégico que Compras pode (e deve) exercer.
O que a moda ensina sobre compras?
Não só na moda, mas também em outros setores, Compras vai muito além de negociar preços. Lida-se com sazonalidade, tendências que mudam rápido, prazos apertados, fornecedores em diversas partes do mundo, e exigências cada vez maiores de sustentabilidade e preço.
Quem trabalha com moda sabe que um erro de planejamento ou uma compra mal feita pode impactar toda a coleção, e isso afeta não só a margem de lucro, mas a imagem da marca no mercado.
Mas essa realidade não é exclusiva da moda.
Indústrias lidam com estoques excessivos ou matérias primas paradas. O varejo sofre com rupturas e sobras, marcas perdem oportunidades por não estruturar bem sua cadeia de suprimentos.
O ponto em comum? Em todos os setores, quando Compras é vista apenas como área operacional, os riscos aumentam, e os culpados se multiplicam.
Os desafios que nos unem:
1 - Falta de visibilidade e integração com outras áreas
Compras muitas vezes não participa das decisões estratégicas. A área é chamada depois que o cronograma está pronto, os preços definidos e a urgência instalada.
2 - Expectativas desalinhadas
Quando Marketing, Estilo ou Engenharia esperam soluções milagrosas de Compras, sem considerar prazos reais, quantidades mínimas, disponibilidade ou complexidade logística, o resultado é frustração mútua.
3 - Processos informais ou inexistentes
Sem manuais, checklists ou ferramentas adequadas, a área depende de pessoas e não de processos. Resultado: retrabalho, erros e falta de previsibilidade.
4 - Fornecedores mal selecionados ou mal geridos
Muitos setores ainda operam no “quem tem melhor custo” ao invés de construir parcerias sólidas, com gestão de desempenho, contratos bem definidos e alinhamento de expectativas.
Oportunidades que Compras pode (e deve) aproveitar:
Assumir o papel de ponte estratégica entre áreas:
Compras precisa deixar de ser vista como “tiradora de pedidos” e passar a ser consultora interna, ajudando as áreas a tomarem decisões mais eficientes e alinhadas ao negócio.
Atuar com dados e indicadores:
Seja na moda ou qualquer indústria, quem mede, compara e compartilha dados de performance (de fornecedores, prazos, qualidade e custos) passa a liderar com propriedade.
Desenvolver fornecedores com visão de longo prazo:
Em vez de trocar constantemente de fornecedor por centavos, é mais inteligente desenvolver fornecedores alinhados com os valores da empresa, capazes de crescer junto.
Planejar de forma integrada com Produto e Financeiro:
O setor de Compras deve participar das fases iniciais do planejamento, contribuindo com dados de mercado, lead times, custos reais e possibilidades logísticas.
E então, a culpa é de Compras?
Compras, de fato, tem responsabilidade. Mas não sozinha.
A culpa, muitas vezes, está na cultura da empresa, na ausência de processos, no isolamento entre áreas e na falta de protagonismo dado (ou assumido) por Compras.
Uma área de Compras estratégica não apaga incêndio, antecipa riscos. Não negocia só preço, constrói valor. Não trabalha sozinha, mas integrada ao todo.
E esse é um aprendizado que vale para qualquer segmento: moda, agronegócio, construção, tecnologia ou serviços.
Quando Compras é protagonista, ela deixa de ser o bode expiatório e passa a ser uma das engrenagens centrais do crescimento sustentável da empresa.
A culpa não é de Compras. A culpa é de não entender o papel transformador que Compras pode ter.
Vamos mudar isso?

Texto escrito por Daniela Aurelio Dias
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Café com Comprador e de seus editores.







