Mesmo com sistemas de automação em compras, por que ainda existem compradores “colocadores de pedido”?
- ruysmagalhaes
- 3 de mar.
- 5 min de leitura

O setor de compras está passando por uma transformação radical, impulsionada por tecnologias como automação e inteligência artificial. Essas ferramentas prometem otimizar processos, reduzir tarefas manuais e elevar o papel do comprador a um nível estratégico. No entanto, em meio a tantos avanços, uma pergunta persiste: por que ainda encontramos profissionais que se limitam a "colocar pedidos", mesmo com sistemas avançados à disposição?
Antes de respondermos essa pergunta, precisamos "mergulhar" na evolução da área de compras.
Antigamente, o setor de compras era um universo predominantemente manual. As cotações exigiam longas conversas telefônicas, os pedidos eram formalizados via fax e as negociações se baseavam, em grande parte, em relacionamentos pessoais. Esse modelo, embora funcional, apresentava limitações.
A comunicação e a troca de documentos eram demoradas, impactando a agilidade das operações. A ausência de sistemas centralizados dificultava o acompanhamento das transações e a análise de dados, ou seja, cada profissional gerenciava uma informação diferente, alguns anotavam em papéis, outros confiavam na memória.
As negociações eram influenciadas por fatores pessoais, o que podia comprometer a objetividade e a busca por melhores condições. Não era possível utilizar como referência fatores externos devido a demora no processamento de informações. Os compradores dedicavam grande parte do tempo a tarefas manuais, como coleta de cotações e emissão de pedidos.
Coleta de cotações era uma longa jornada no processo, muitas vezes, para obter a cotação, o comprador precisava visitar o fornecdor fisicamente, ocupando longas horas do dia. Devido a isso, buscava-se fornecedores regionais e locais, para facilitar no transporte de itens e agilizar de alguma forma a comunicação.
A Revolução Tecnológica: Automatização e Estratégia
O avanço da tecnologia trouxe uma nova era para o setor de compras. Os sistemas de e-procurement, ERPs e plataformas digitais surgiram como ferramentas poderosas para automatizar e otimizar os processos:
Automação de tarefas repetitivas: A tecnologia assumiu tarefas como coleta de cotações, emissão de pedidos e acompanhamento de entregas, liberando os compradores para atividades estratégicas.
Centralização de informações: As plataformas digitais proporcionam um ambiente centralizado para gerenciar fornecedores, contratos e pedidos, aumentando a transparência e a eficiência.
Análise de dados: Ferramentas de análise de dados permitem identificar tendências, otimizar estoques e tomar decisões mais assertivas.
Comunicação facilitada: A comunicação com fornecedores e outras áreas da empresa se tornou mais ágil e eficiente, graças a recursos como chat, videoconferência e portais online.
Expansão da possibilidade de análise: A tecnologia permite que o profissional de compras consiga realizar analises de um grande volume de dados, o que antes seria impossível.
A Revolução Digital: Controle e Rastreabilidade
A digitalização revolucionou o setor de compras, proporcionando um nível de controle e rastreabilidade sem precedentes. Hoje, as empresas contam com softwares sofisticados que integram compras, estoque e finanças, garantindo eficiência, transparência, rastreabilidade e maior controle.
Porém, apesar dos avanços tecnológicos, muitos profissionais de compras ainda estão presos a uma mentalidade operacional, limitando seu potencial estratégico. Essa mentalidade se manifesta em:
Foco em tarefas manuais: A priorização de tarefas operacionais, como emissão de pedidos e acompanhamento de entregas, em detrimento de atividades estratégicas, como análise de mercado e negociação de contratos.
Resistência à mudança: A dificuldade em adaptar-se às novas tecnologias e em adotar novas formas de trabalho.
Falta de visão estratégica: A dificuldade em compreender o impacto estratégico das compras e em utilizar as ferramentas digitais para agregar valor à empresa.
Zona de conforto: A permanência em processos e rotinas já conhecidas, evitando a experimentação de novas ferramentas e metodologias.
É é desta forma que encontramos o famoso "Comprador coloador de pedido".

"É uma função de emitir e processar pedidos, bem operacional mesmo. Geralmente este profissional recebe uma demanda e normalmente é só execução, a parte de formalização do processo muitas vezes ocorre com a solicitação já negociada pelo próprio requisitante.
Já possui fornecedor indicado, e o profissional de compras está fazendo esse registro no sistema apenas para viabilizar o pagamento junto ao financeiro. Então muitas vezes além do profissional não negociar, e não indicar fornecedor, dificilmente acompanha o processo de entrega. Não analisa as condições comerciais, prazo de pagamento, não desenvolve uma estratégia para o melhor momento em uma negociação, é o comprador que apenas compra." Segundo Carolina Cabral, CEO da NIMBI S/A, compras é uma área extremamente estratégica no mercado, e seu protagonismo deve ser conquistado pelas ações e analises de compradores que "pensam fora da caixa".
Muitas empresas ainda precisam deste tipo de profissional, focado apenas em processos manuais, principalmente em projetos "bombeiros", apelidados como "apagadores de incêncio".
"É um profissional que não avança além do que ele tem que fazer, não olha o que a empresa

faz, não olha para o lado para desenvolver networking e ver os parceiros dele.
Não esta preocupado em em gerar valor para o negócio, porque este profissional "não vai atrás" para entender o que a empresa faz para buscar soluções em reduções de custo e tecnologia. É um perfil profissional que olha o trabalho apenas como uma "ganha pão ali". Não tem vontade de fazer o diferente, não tem prazer naquilo, não tem motivação.
Então tudo isso faz com que o cara fique ali fazendo "mais do mesmo", conforme relata Douglas Ferreira, Presidente do Grupo Café, durante uma paletra do evento Café Meeting em Manaus no Amazonas.
Acredite ou não, ainda existem empresas no mercado que precisam de profissionais com este perfil, isto mesmo, este perfil comentado por Carolina Cabral e Douglas Ferreira.
Estou falando de empresas que ainda enxergam a área de compras como uma área de execução, e não uma área estratégica.
Você pode até descordar da minha opinião, mas terei a humiuldade em dizer que isto não é surpresa, exato, não é novidade que muitas empresas "teimam" que a área de compras é apenas operacional.
Este paradigma iniciou-se com a terceira revolução industriial, meados de 1950, onde as compras eram realizadas por cada departamento, sem nenhum controle estratégico.
Sabe como eram compras nessa época?
Retorne no início deste artigo e leia os paragrafos 3,4,5 e 6 novamente, nele cito alguns processos operacionais de compras, e propositalmente não mencionei a época, porém estou falando do início da terceira revolução industrial até os tempos de hoje,
Sim, até os tempos de hoje, ainda existem empresas que atuam EXATAMENTE da mesma forma.
Superando a Mentalidade Operacional: Estratégias para a Mudança
Para que o setor de compras possa aproveitar todo o potencial da transformação digital, é fundamental superar a mentalidade operacional. Algumas estratégias eficazes incluem:
Oferecer treinamentos e workshops para que os profissionais dominem as novas tecnologias e desenvolvam habilidades estratégicas. Incentivar a experimentação e a adoção de novas tecnologias e metodologias. Reconhecer o papel do comprador como um parceiro estratégico da empresa, capaz de gerar valor e vantagem competitiva. Estabelecer metas e indicadores que incentivem os compradores a atuarem de forma estratégica e a utilizarem as ferramentas digitais de forma eficaz. Promover a colaboração entre os compradores e outras áreas da empresa, como finanças, vendas e produção, para garantir a integração dos processos e a troca de informações.
A automação de compras veio para transformar a profissão, mas ainda existem desafios para que os profissionais deixem de ser meros “colocadores de pedido” e se tornem estratégicos. A mudança exige vontade, capacitação e uma nova mentalidade por parte dos compradores e das empresas.
E você comprador, deixou de ser operacional e tornou-se um profissional estratégico?

Texto escrito por Ruy Magalhães
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