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Gás Natural e os desafios do comprador no cenário atual



O mercado de energia nunca foi tão desafiador aos compradores como está sendo no momento. Muitos acharam que após a pandemia, as coisas iriam melhorar e a cadeia de suprimentos, mesmo levando certo tempo, iria retomar sua normalidade, porém, um novo fato de enorme relevância no setor de energia toma as manchetes: A Rússia invade a Ucrânia e uma nova crise é instalada de forma generalizada. De um lado, um dos maiores produtores de petróleo e gás, além de fertilizantes; do outro, um grande produtor de trigo entre outros produtos altamente relevantes no cenário da geopolítica.


Gostou do tema, então pegue seu café, fique confortável, e bora lá para mais um papo de comprador.


Que a vida do comprador é uma correria e desenhar uma rotina diária de trabalho é quase impossível, todos já sabem, pois todos os dias somos surpreendidos com alguma demanda urgente e as vezes, ouvimos frases como: “a fábrica vai parar” daí pronto, tudo que estava planejado já não vale mais, o foco agora é correr para resolver o novo problema para evitar a tal parada da fábrica.


Pois bem, feita essa ressalva, bora lá para o tema central do artigo, a crise atual do gás natural no mercado externo que nos impacta diretamente no mercado interno.


No momento em que o Brasil está passando pela abertura do seu mercado de gás, como ocorreu recentemente no mercado de energia, alguns desafios externos se levantam para dificultar a vida do consumidor brasileiro. Com as tensões entre Rússia e Ucrânia só aumentando, vários países do ocidente levantaram sanções a empresas russas.


A grande pergunta que fica no ar: “qual a estratégia por trás das sanções ao gás e petróleo russo se a Europa é totalmente dependente de tal insumo”? Totalmente dependente, considerando o fato em que, uma vez havendo a necessidade de se trazer a mesma quantidade de gás e petróleo fornecidos pela Rússia à Europa de outras partes do mundo, o insumo encareceria demais, trazendo assim, a inviabilidade de muitas indústrias na região. Um grande exemplo desta situação é o caso da alemã “Uniper SE” que está a apenas "dias" de insolvência, disse o vice-presidente do conselho de supervisão da Uniper, Harald Seegatz, à Bloomberg na sexta-feira, 15/07.


Ainda na mesma matéria, cita a Uniper como a maior compradora de gás natural russo da Alemanha, assegurando contratos com a Gazprom. Mas como a Gazprom cortou os fluxos de gás natural para a Alemanha e o gasoduto Nord Stream 1 da Rússia passa por manutenção, as compras de gás da Uniper no mercado spot aumentaram - um cenário mais caro do que seu acordo com a Gazprom. A mesma dificuldade vem ocorrendo com a Yara, grande produtora de amônia. Não na mesma proporção, mas já o suficiente para diminuição da sua produção.


Este é o caso de muitas empresas na Europa, onde há o entendimento de que as sanções irão diminuir o fluxo financeiro de Putin e assim não estariam financiando o lado invasor da guerra, porém, temos o famoso caso de cobrir a cabeça e descobrir os pés, pois tal sanção está fazendo com que as empresas busquem alternativas para suprir sua necessidade energética e como o gás barato russo já não está disponível, toda a operação precisa ser repaginada, levando muitas empresas ao ponto de insolvência e até mesmo fechar as portas.


Analisando o gráfico abaixo da “Agência Internacional de Energia”, notamos que as exportações de gás à Europa pelos americanos, já superam o volume russo pela primeira vez.


A grande exportação de gás à Europa acaba pressionando os preços no mercado doméstico americano, conforme gráfico abaixo, os preços do gás no país já ultrapassam os 200% de aumento considerando o período Pré-pandemia. As cotações no “HENRY HUB” (USD/MMBtu) que estavam em torno de USD 2,17 já superam a barreira dos USD 7,00 neste mês de julho/22. Entre os meses de maio e junho chegando a picos acima de USD 8,00.




Como se trata de um mercado globalizado, no Brasil não é diferente, até porque, temos que importar boa parte do gás consumido no país. E para provar que sempre pode piorar, recentemente a Bolívia cortou 30% da cota que era fornecida ao Brasil para enviar à Argentina. Pois é, o preço do gás está nas alturas e quem pagar mais leva, parece ser este o recado dos bolivianos à Petrobrás. Somando este fator a importações de GNL dos EUA e outras fontes internacionais, temos um grande aumento do gás natural e GNV no mercado brasileiro. Abaixo, com dados da ANP, média por região, temos a variação do produto no mercado doméstico de jan/21 a jul/22. Onde destacamos a variação entre 2021 x 2022:


-Em destaque, a média dos preços em jan/21; jan/22 e jul/22.



O impacto no mercado brasileiro está muito abaixo dos percentuais percebidos nos gráficos acima do mercado americano e que na Europa não é diferente. Por aqui, considerando o mesmo período pré-pandemia, de jul/19 (R$ 3,15m³) a jul/22 (R$ 5,13m³) o impacto não ultrapassa 100% ficando em torno de 63% (Fonte: ANP Média Brasi - GNV, data da consulta: 19/07/2022). Tal fato se deve a discussão entre Petrobrás e distribuidoras na justiça, onde a estatal brasileira pretende aumentar o % do Petróleo Brent na precificação do gás natural dos atuais 12% para algo em torno de 16%. Em caso de aprovação pelos orgãos reguladores, provavelmente teremos então o impacto ultrapassando os 100% no período citado, devido a alta constante do barril de petróleo.


O desafio ao comprador está cada dia maior, seja em projetos de substituição de outra matriz energética pelo gás natural, seja na negociação da molécula no mercado livre, ou até mesmo na divergência do orçamento de 2022 onde a guerra frustrou qualquer previsão de impacto da commoditie, fato é que todos estão vendo os fatos se desdobrando e no dia a dia a pressão sobre o profissional de compras só aumenta, com isso, monitorar as notícias e tendências do mercado, acompanhar artigos e relatos de outros profissionais da área, com certeza poderão trazer mais clareza dos fatos e proporcionar melhores estratégias a médio e longo prazo.


Acesse gratuitamente o site www.cafecomcomprador.com.br/blog e aproveite os diversos artigos disponíveis. São vários os temas que irão com certeza contribuir para o desenvolvimento estratégico dos nossos amigos e amigas de compras.



Foi um prazer tomar este café contigo, nos vemos no próximo artigo, até lá!




Texto escrito por Alex Ponce | 19/07/2022, fundador da APX Energy , com página no Instagram @apx_energy_brazil e é colunista do Café com Comprador.

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